“O Ocidente premia filmes que vão na direção de suas políticas”, disse o sociólogo Iraniano Ebrahim Fayyaz. “O filme só obteve tanto destaque por ser contrário ao sistema de governo iraniano" afirmou o diretor do Ministério da Cultura e da Orientação Islâmica, Mohammad Bagher Khoramshad. Eles estão corretos. A Separação, de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano é ótimo, mas há muito tempo o prêmio não se ocupa do que tem qualidade. O cinema do Irã, premiadíssimo nos festivais internacionais (Palma de Ouro em Cannes em 1997, com O Gosto da Cereja, de Abas Kiarostami, Leão de Ouro em Veneza em 1999, com O Vento nos Levará, também de Kiarostami, e em 2000, com O Círculo, de Jafar Panahi, pra citar alguns) sempre passou batido pelo “Eunuco Dourado”(adorei a gozação de João Pereira Coutinho na Folha). Agora foi conveniente.
Hollywood 1
Os filmes O Artista e A Invenção de Hugo Cabret parecem partes de um mesmo projeto. No primeiro um diretor francês vai à Los Angeles dos anos 20/30 e no segundo um estadunidense vai à Paris da mesma época. Ambos pretendem homenagear o cinema.
Hollywood 2
O filme de Michel Hazanavicius foi rodado em preto e branco e é mudo na sua quase totalidade. A melhor cena, no entanto, a do pesadelo do protagonista com a chegada do cinema falado, é sonora. O resto é uma sucessão de pastiches, de citações manjadas e construções banais (num determinado momento a atriz ascendente encontra-se com o ator decadente numa suntuosa escada, ela subindo e ele descendo, obviamente). L´Artist é kitsch não por uma opção estética que provoque qualquer questionamento, mas por suas limitações criativas; por sua rendição a uma cartilha desbotada, e o que tem de positivo, como algumas atuações, a fotografia, a música (com exceção da inserção da trilha sonora de Vertigo de Hitchcock, composta por Bernard Herrmann , que soa como um sacrilégio) potencializa em muito estas limitações.
Hollywood 3
De sua parte, Scorsese recorreu ao nascimento do cinema na França, entre a invenção do mesmo pelos irmãos Lumière e os primeiros esboços da linguagem cinematográfica criados pelo mago Georges Méliès. Tinha nas mãos uma belíssima estória pra contar em imagens e a seu serviço o máximo da tecnologia atual (o nível da fotografia projetada em 3D beira a perfeição). O resultado, porém, é um filme que não transcende ao gênero(infanto-juvenil), datado e escapista, que nunca triunfa sobre os clichês. O superestimado diretor foi muito mais eficiente na intenção de declarar seu amor ao cinema no documentário A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies. Também o foi naquele que talvez seja seu melhor filme de ficção, o subestimado Ilha do Medo. Ali, diferentemente daqui, todo o repertório cinematográfico do cineasta ecoava com inteligência e inventividade.
Colônia Hollywood
Pela primeira um filme francês ganhou os prêmios principais da academia. Alguém conseguiu detectar alguma coisa do cinema francês (ou europeu) em O Artista?
Memória/ Oscar
A festa de entrega do Oscar tem por tradição homenagear as personalidades do cinema falecidas no último ano. Esqueceram Theo Angelopoulos, gênio grego de obras como A Viagem dos Comediantes, O Apicultor, Viagem a Citera, Paisagem na Neblina, O Passo Suspense da Cegonha, Um Olhar a Cada Dia, A Eternidade e um Dia, Vale dos Lamentos e Poeira do Tempo.Todos obrigatórios ao museu da memória dos cinéfilos.
Memória/ Oscar 2
Durante a festa da academia, chegava-nos a notícia da morte de Erland Josephson, ator bergmaniano que trabalhou com Angelopoulos em Um Olhar a Cada Dia, este sim, uma linda homenagem ao cinema. Esperar um minuto de silêncio foi pura utopia.
No vídeo a seguir um tributo a Um Olhar a Cada dia.
No vídeo a seguir um tributo a Um Olhar a Cada dia.
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