quinta-feira, 1 de março de 2012

CINEFILIA

Irã
“O Ocidente premia filmes que vão na direção de suas políticas”, disse o sociólogo Iraniano Ebrahim Fayyaz. “O filme só obteve tanto destaque por ser contrário ao sistema de governo iraniano" afirmou o diretor do Ministério da Cultura e da Orientação Islâmica, Mohammad Bagher Khoramshad.  Eles estão corretos. A Separação, de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano é ótimo, mas há muito tempo o prêmio não se ocupa do que tem qualidade.  O cinema do Irã, premiadíssimo nos festivais internacionais (Palma de Ouro em Cannes  em 1997, com O Gosto da Cereja, de Abas Kiarostami, Leão de Ouro em Veneza em 1999, com O Vento nos Levará, também de Kiarostami, e em 2000, com O Círculo, de Jafar Panahi, pra citar alguns) sempre passou batido  pelo “Eunuco Dourado”(adorei a gozação de João Pereira Coutinho na Folha). Agora foi conveniente.

Hollywood 1
Os filmes O Artista e A Invenção de Hugo Cabret parecem partes de um mesmo projeto. No primeiro um diretor francês vai à Los Angeles  dos anos 20/30 e no segundo um estadunidense vai à Paris da mesma época.  Ambos pretendem homenagear o cinema.

Hollywood 2
O filme de Michel Hazanavicius foi rodado em preto e branco e é mudo na sua quase totalidade. A melhor cena, no entanto, a do pesadelo do protagonista com a chegada do cinema falado, é sonora. O resto é uma sucessão de pastiches, de citações manjadas e construções banais (num determinado momento a atriz ascendente encontra-se com o ator decadente numa suntuosa escada, ela subindo e ele descendo, obviamente).  L´Artist é kitsch não por uma opção estética que provoque qualquer questionamento, mas  por suas limitações criativas; por sua rendição a uma cartilha desbotada, e o que tem de positivo, como algumas atuações, a fotografia, a música (com exceção da inserção da trilha sonora  de Vertigo de Hitchcock, composta por Bernard Herrmann , que soa como um sacrilégio) potencializa em muito estas limitações.


Hollywood 3
De sua parte, Scorsese recorreu ao nascimento do cinema na  França, entre a  invenção do mesmo pelos  irmãos Lumière e os primeiros esboços da  linguagem  cinematográfica criados pelo mago Georges Méliès.  Tinha nas mãos uma belíssima estória pra contar em imagens e a seu serviço o máximo da tecnologia atual (o nível da fotografia  projetada em 3D beira a perfeição). O resultado, porém,  é um filme que não transcende ao gênero(infanto-juvenil), datado e escapista, que  nunca triunfa sobre os clichês. O superestimado diretor foi muito mais eficiente na intenção de declarar seu amor ao cinema no documentário A Personal Journey  with Martin Scorsese Through American Movies. Também o foi naquele que talvez seja seu melhor filme de ficção, o subestimado  Ilha do Medo. Ali, diferentemente  daqui, todo o repertório cinematográfico do cineasta ecoava com inteligência e inventividade.


Colônia Hollywood
Pela primeira um filme francês ganhou os prêmios principais da academia. Alguém conseguiu detectar alguma coisa do cinema francês (ou europeu) em O Artista?


Memória/ Oscar
A festa de entrega do Oscar tem por tradição homenagear as personalidades do cinema falecidas no último ano. Esqueceram Theo Angelopoulos, gênio grego de obras como A Viagem dos Comediantes, O Apicultor, Viagem a Citera, Paisagem na Neblina, O Passo Suspense da Cegonha, Um Olhar a Cada Dia, A Eternidade e um Dia, Vale dos Lamentos e Poeira do Tempo.Todos obrigatórios ao museu da memória dos cinéfilos.


Memória/ Oscar 2
Durante a festa da academia, chegava-nos a notícia da morte de Erland Josephson, ator bergmaniano que trabalhou com Angelopoulos em Um Olhar a Cada Dia, este sim, uma linda homenagem ao cinema. Esperar um minuto de silêncio foi pura utopia.
No vídeo a seguir um tributo a Um Olhar a Cada dia.

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