sábado, 31 de março de 2012

CINEFILIA

Zhang Yimou
O cineasta chinês de Zhang Yimou  encheu a vista (e a alma) dos cinéfilos com a  trilogia de produção milionária formada por Herói, O Clã das Adagas Voadoras e A Maldição da Flor Dourada. Seus filmes anteriores, sobretudo Sorgo Vermelho, Lanternas Vermelhas, Amor e Sedução, também belíssimos, tinham custo bem mais modesto e, para muitos, eram artisticamente superiores. Não concordamos com estas opiniões. É fato que as superproduções, com poucas exceções e sobretudo nos últimos anos resultam em filmes medianos, massivos, quase sempre enfadonhos. No caso de Yimou, cada “yuan” é gasto com inteligência superlativa, em imagens que nos levam muitas vezes ao delírio emocional (Ah! sensibilidade, esse incomensurável patrimônio). Árvore do Amor, seu último filme lançado no Brasil. É uma delicada música de câmara que nos chega depois de longo período sinfônico.

 


 A Árvore do Amor
O filme conta a história de Jing (Zhou Dongyu , ótima em sua estréia no cinema)  filha de pais subversivos (capitalistas), punidos pelo regime comunista, e Sun, filho de mãe suicida (também capitalista) e de militar de alto escalão no governo, que vivem um conflituoso, clandestino, comedido e sublimado  romance, espécie de Romeu e Julieta, em  meio à revolução cultural de Mao Tse Tung quando, dentro de um processo educativo (ou de reeducação), estudantes citadinos eram enviados para campo a fim de  terem contato com uma outra realidade e se despirem de quaisquer ranços burgueses.
Baseado em fatos reais, Yimou nos conduz com muita serenidade, sem maniqueísmo ou sentimentalismo por um momento crucial da história do século 20. Em A Árvore do Amor, tão relevante quanto o drama romântico, é a análise histórica do contexto político-ideológico, do embate entre capitalismo e comunismo, que persiste até hoje (veja mais sobre este assunto em Tempos de Viver, do próprio Yimou e A Chinesa, de Godard); tão importante quanto a forte atração entre os personagens, é a pressão deste contexto sobre a vida deles.
Frase
Uma frase crítica e esclarecedora, é dita mais de uma vez por Sun diante das provações a que sua amada tinha que se submeter para se mostrar conivente com o regime político: “É assim hoje, mas pode mudar lá na frente”.
 Flores
A árvore do título é um espinheiro existente na aldeia-cenário batizado pela comunidade de “espinheiro dos heróis”, pois ali tombaram chineses que lutaram na guerra Sino-Japonesa. Isso faz com que, segundo a lenda, o ao invés das naturais flores brancas, brotem dele flores vermelhas. Estas também podem simbolizar um amor proibido.No final, romance e história convergem em duas cenas tocantes. Na última vemos o brotar das flores da árvore do amor, com tudo de carga simbólica que possui. Na penúltima, vivenciamos uma das lágrimas mais lindamente derramadas no cinema
Antologia de cenas
                                                                          


      
                                                        

quinta-feira, 29 de março de 2012

VISUALIDADES



Perda
Morreu Hilton Kramer, que foi crítico de arte no New York Times entre 1965 e 1982. Combativo, polêmico, conservador (questionou a arte pos-moderna, a Pop Arte...) . O tipo de intelectual que você respeita , embora  não concorde com suas idéias ou posições. Seria ótimo se no Brasil houvesse alguém que, com sua bagagem cultural, tivesse coragem de nos dizer de vez em quando que o rei estava nú.

quarta-feira, 28 de março de 2012

VISUALIDADES

Imagens da exposição do pintor espanhol Jose Morea, em cartaz no MAC Dragão do Mar.







sábado, 24 de março de 2012

VISUALIDADES


Jose Morea
MAC Dragão do Mar exibe um belíssimo conjunto de telas inéditas produzidas por Jose Morea na sua Espanha natal e no Brasil, países em que mantém atelier. Ele divide seu tempo entre Chiva, cidade onde nasceu, nas cercanias de Valencia e Salvador na Bahia, para onde foge quando chega o inverno na Europa.. As duas cidades, segundo ele, são “mediterrâneas, lúdicas e coloridas”. O mesmo pode-se dizer de alguns momentos de seu trabalho. Em outros é mais denso, obscuro, abrindo espaço para a ironia e a crítica social.

Jose Morea 2 
Vindo de uma terra de grande tradição na pintura; terra de Velázquez, Goya, Picasso, Miró, Tapies, e seus universos seminais; Jose Morea pinta de maneira saborosamente livre e é saudável que não tenha uma linha definida (ele mesmo diz que “qualquer situação pode gerar uma imagem nova, não me importa se contradiz um quadro anterior”).Sua caligrafia, no entanto, não deixa de ser vigorosa e bastante pessoal.

sexta-feira, 23 de março de 2012

TELEVISIVAS



Perda
O cearense Chico Anysio foi um dos maiores comediantes do mundo, ao lado de Charles Chaplin, Buster Keaton, Peter Sellers e não muitos outros. Não conheço outro ator que tenha criado tantos personagens memoráveis.





quinta-feira, 22 de março de 2012

CINEFILIA


Perda
Morreu Tonino Guerra,  roteirista gênio. Sua colaboração com os cineastas Fellini, Antonioni, Tarkovski e Angelopoulos (outra grande perda de 2012), pra ficar apenas no Olimpo, gerou obras excepcionais como: Amarcord, E La Nave Va, A Aventura, A Noite, O Eclipse, Blow-Up, Nostalgia, Viagem a Citera, Paisagem na Neblina, O Passp Suspenso da Cegonha, A Eternidade e um Dia, e Um Olhar a Cada Dia. Foi indicado 3 vezes ao Oscar. Obviamente não recebeu nenhum. A seguir, cena de Blow-Up, de Miguelangelo Antonioni, e de Amarcord, de Federico Fellini.






terça-feira, 20 de março de 2012

CINEFILIA


Pina 3D
Pina, homenagem de Wim Wenders à coreógrafa alemã Pina Bausch, falecida há 3 anos, é o primeiro filme 3D que vejo em que a técnica potencializa o conteúdo. Aqui os enquadramentos e movimentos de câmera do diretor tornam a tridimensionalidade fundamental para a transformação das  magníficas coreografias selecionadas por ele, que sempre fundem teatro e dança,  em grandes momentos também de cinema.




sexta-feira, 16 de março de 2012

VISUALIDADES

Eduardo Eloy
Quando Eduardo Eloy me mostrou esta nova série de desenhos, feitos com café, nanquim e caneta de marcar cd sobre cartão, fiquei bastante impactado, embora não surpreso (de um artista de tal envergadura, esperamos sempre a superação). Alguns meses depois a mostra Nova Visitação estava montada no MAC Dragão do Mar sob minha curadoria.


Eduardo Eloy 2 
Nova Visitação apresenta o artista numa viagem introspectiva por uma iconografia bastante pessoal. Sua caligrafia não mudou nestes mais de 30 anos dedicados à arte e nos quais nunca percebemos  momento de estagnação criativa pois sempre buscou, obstinadamente, a expansão das possibilidades de técnicas que desenvolve com maestria como a gravura, a pintura e o desenho. Suas escrituras, porém, parecem mais livres. É algo como se um filho visitasse a casa paterna depois de alguns anos e, à luz da maturidade, resolvesse antigos conflitos (plantando obviamente a semente para outros).
Nova Visitação fica em cartaz só até o próximo domingo, dia 18.


quinta-feira, 1 de março de 2012

CINEFILIA

Irã
“O Ocidente premia filmes que vão na direção de suas políticas”, disse o sociólogo Iraniano Ebrahim Fayyaz. “O filme só obteve tanto destaque por ser contrário ao sistema de governo iraniano" afirmou o diretor do Ministério da Cultura e da Orientação Islâmica, Mohammad Bagher Khoramshad.  Eles estão corretos. A Separação, de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano é ótimo, mas há muito tempo o prêmio não se ocupa do que tem qualidade.  O cinema do Irã, premiadíssimo nos festivais internacionais (Palma de Ouro em Cannes  em 1997, com O Gosto da Cereja, de Abas Kiarostami, Leão de Ouro em Veneza em 1999, com O Vento nos Levará, também de Kiarostami, e em 2000, com O Círculo, de Jafar Panahi, pra citar alguns) sempre passou batido  pelo “Eunuco Dourado”(adorei a gozação de João Pereira Coutinho na Folha). Agora foi conveniente.

Hollywood 1
Os filmes O Artista e A Invenção de Hugo Cabret parecem partes de um mesmo projeto. No primeiro um diretor francês vai à Los Angeles  dos anos 20/30 e no segundo um estadunidense vai à Paris da mesma época.  Ambos pretendem homenagear o cinema.

Hollywood 2
O filme de Michel Hazanavicius foi rodado em preto e branco e é mudo na sua quase totalidade. A melhor cena, no entanto, a do pesadelo do protagonista com a chegada do cinema falado, é sonora. O resto é uma sucessão de pastiches, de citações manjadas e construções banais (num determinado momento a atriz ascendente encontra-se com o ator decadente numa suntuosa escada, ela subindo e ele descendo, obviamente).  L´Artist é kitsch não por uma opção estética que provoque qualquer questionamento, mas  por suas limitações criativas; por sua rendição a uma cartilha desbotada, e o que tem de positivo, como algumas atuações, a fotografia, a música (com exceção da inserção da trilha sonora  de Vertigo de Hitchcock, composta por Bernard Herrmann , que soa como um sacrilégio) potencializa em muito estas limitações.


Hollywood 3
De sua parte, Scorsese recorreu ao nascimento do cinema na  França, entre a  invenção do mesmo pelos  irmãos Lumière e os primeiros esboços da  linguagem  cinematográfica criados pelo mago Georges Méliès.  Tinha nas mãos uma belíssima estória pra contar em imagens e a seu serviço o máximo da tecnologia atual (o nível da fotografia  projetada em 3D beira a perfeição). O resultado, porém,  é um filme que não transcende ao gênero(infanto-juvenil), datado e escapista, que  nunca triunfa sobre os clichês. O superestimado diretor foi muito mais eficiente na intenção de declarar seu amor ao cinema no documentário A Personal Journey  with Martin Scorsese Through American Movies. Também o foi naquele que talvez seja seu melhor filme de ficção, o subestimado  Ilha do Medo. Ali, diferentemente  daqui, todo o repertório cinematográfico do cineasta ecoava com inteligência e inventividade.


Colônia Hollywood
Pela primeira um filme francês ganhou os prêmios principais da academia. Alguém conseguiu detectar alguma coisa do cinema francês (ou europeu) em O Artista?


Memória/ Oscar
A festa de entrega do Oscar tem por tradição homenagear as personalidades do cinema falecidas no último ano. Esqueceram Theo Angelopoulos, gênio grego de obras como A Viagem dos Comediantes, O Apicultor, Viagem a Citera, Paisagem na Neblina, O Passo Suspense da Cegonha, Um Olhar a Cada Dia, A Eternidade e um Dia, Vale dos Lamentos e Poeira do Tempo.Todos obrigatórios ao museu da memória dos cinéfilos.


Memória/ Oscar 2
Durante a festa da academia, chegava-nos a notícia da morte de Erland Josephson, ator bergmaniano que trabalhou com Angelopoulos em Um Olhar a Cada Dia, este sim, uma linda homenagem ao cinema. Esperar um minuto de silêncio foi pura utopia.
No vídeo a seguir um tributo a Um Olhar a Cada dia.