segunda-feira, 30 de abril de 2012

VISUALIDADES


Coleção
O MAC Dragão do Mar, desde 2007, vem ampliando seu acervo não só com obras locais e nacionais como também internacionais com ênfase maior na América Latina. O projeto Americanidade, que teve patrocínio da Construtora Queiróz Galvão, permitiu a vinda de exposições importantes de artistas do nosso continente, e todos deixaram obras bastante significativas para o museu. Outro apoio imprescindível que tivemos foi do Instituto Paranaense de Arte, através da Bienal de Curitiba. A Ideia de compor uma coleção de arte latino-americana vem desde a Bienal Ceará América, de 2002, da qual fui diretor e que teve curadoria dos belgas Jan Hoet e Phillipe Vancauterem. Esta foi a última exposição da minha primeira gestão no museu e foi encerrada pela minha sucessora. Obras que poderiam já ter ficado naquela época foram devolvidas. A Bienal não passou da primeira edição, mas alguns trabalhos que dela participaram, retornaram agora ao MAC de forma definitiva. Podemos afirmar que o MAC Dragão do Mar possui hoje uma coleção nacional e internacional de grande qualidade, que cresce a cada dia. A partir de hoje, o blog INTRUSO - por falar em cultura, passa a divulgar, sistematicamente algumas obras deste acervo, para que todos tenham conhecimento do patrimônio artístico que o Estado do Ceará está formando. A primeira obra que mostramos, Animes Perdudes, da artista espanhola Marisa Jorba ( MAÏS) foi doada recentemente e encontra-se exposta no museu.

Marisa Jorba (MAÏS), Animes Perdudes, instalação - col. MAC Dragão do Mar


CINEFILIA

DVD PARA TER
O Demônio das Onze Horas, de Jean Luc Godard

Jean Paul Belmondo, desempregado e entediado num casamento burguês, reencontra
uma antiga amante, a linda Anna Karina. Depois que uma pessoa morta é encontrada no
apartamento dela, na manhã de uma noite de amor, decidem fugir, queimando no percurso todas as pontes que possibilitariam o retorno à antiga vida. Ou à vida.
Dicionário  de Godard, é um belíssimo e impactante poema inconformista, transgressor,
anti-naturalista (em alguns momentos flerta com o  musical; em outros alguém fala com
a platéia), com final literalmente bombástico.




segunda-feira, 23 de abril de 2012

CINEFILIA

DVD PARA TER

Contos de Toquio, de yasujiro Ozu
A câmera de Ozu, sempre colocada à altura de uma pessoa sentada num tatame,
nos coloca muito próximos aos personagens. Quando menos percebemos, já estamos
envolvidos visceralmente com aquela familia simples, numa situação de profundo
desconforto. Aquele drama, narrado em tom menor, nos conduz a uma experiência
única, de emoção extrema. O cinema é também arte graças a gênios como Ozu.
Contos de Toquio é um dos momentos máximos da arte.






sexta-feira, 20 de abril de 2012

VISUALIDADES

Robezio Marques
Salão de Arte
A instituição Salão de Arte, tão combatida nos últimos anos, acabou se tornando ineficaz. Não se pode esperar hoje que um salão seja uma mostra top de linha, pois o universo de trabalho de quem seleciona é cada vez mais limitado. Artistas com alguma estrada quase não se inscrevem mais, preferindo esperar por uma inserção no panorama via convite em projetos de curadores da corrente principal (livre tradução para mainstream).  
Julio Lira
 Salão de Abril
O Salão de abril, em Fortaleza, um dos mais antigos do Brasil, vem resistindo. Há pouco deixou de ser local, e nele hoje quase não se vê artista cearense. A mudança de foco deu uma oxigenada na mostra criando uma sintonia com o tempo que há muito se havia perdido. Neste ano, porém, houve um brusco retrocesso. A vocação experimentalista que vinha se esboçando cedeu lugar, com algumas exceções, ao formalismo em seu sentido mais pejorativo. Tudo parece datado, e mais que tudo,  a seleção de pinturas. No melhor e no pior exemplo desta modalidade temos telas hiperrealistas (o Hiperrealismo, ou Fotorrealismo, foi uma escola de pintura que surgiu e repercutiu nos Estados Unidos no final dos anos 60). Falta aqui densidade, questionamentos, pesquisas, inventividade, quase tudo descambando para o decorativo.

Salão de Abril 2
Na fotografia, merece atenção o trabalho do cearense Julio Lira, com imagens de túmulos de um cemitério vertical de La Paz, montadas de forma serial,  nos quais visitantes (do cemitério) fazem inteferencias nem sempre solenes ou fúnebres. Há também duas boas instalações que expandem com inteligência questões de duas linguagens tradicionais: A escultura,  no caso da  paulista Marilia Furnan, que ergue pequenos cacos de vidros com pequenas ferramentas vermelhas (espécie de chave-inglesa), e o desenho, que a goiana Yara Pina Mendonça leva a extremos ao povoar seu espaço, de maneira quase performática com papel e carvão, entre outros elementos. Ambos os trabalhos foram bastante prejudicados pela montagem.

Salão de Abril 3
Também merecem menção a obra de Paul Cezanne, instigante embate entre desenho e pintura e a intervenção onomatopaica do cearense Robézio Marques, que deve se estender pela cidade, aqui também prejudicada pela montagem que faz com que seu trabalho se mescle com um outro (um gramado plantado no corredor interno de uma das entradas da exposição, recurso já utilizado pelo próprio Robézio, com outra conotação, e pela também cearense Sabyne Cavalcante, neste caso, de forma bastante semelhante).

Marilia Furnan

Salão de Abril 4
Assim, entre diluições (MADI, Richard Deacon) e pegadinhas (um artista com pintura simula espelhos redondos que refletem, do alto, vários ângulos do salão), a esperada mostra de abril já precisa se repensada.
PS 1: O Vídeo, uma das modadidades de arte mais utilizadas pelos artistas cearenses ficou de fora desta edição do Salão de Abril.
 PS 2: Justíssima a homenagem a Heloísa Juaçaba, grande artista e mecenas. Sua mostra, mesmo pequena, é de grande qualidade.  O Salão poderia homenagear também outra grande dama da arte do Ceará: Ignez Fiuza, pioneira do mercado de arte local, que ajudou na profissionalização de muitos artistas.

Yara Pina Mendonça




VISUALIDADES

quinta-feira, 12 de abril de 2012

MUSICAL

Marcos Valle e Stacey Kent
O Show de ontem à noite, no Teatro Via Sul, aqui em Fortaleza, foi um raro momento de boa música nesta cidade que vive um momento de baixa no quesito espetáculo musucal. Valle, embora meio fora da mídia atualmente ( nos anos 70 dominou até as trilhas de novelas da globo), é um dos grandes melodistas que o Brasil já produziu. Se tivesse composto apenas Viola Enluarada, parceria com seu irmão Paulo Sergio, já teria atingido este posto, mas fez muito mais. Stacey, de sucesso ascendente, é sua interprete perfeita, com swing, carisma, e uma voz linda e peculiar. Tem potencial, sem dúvidas, para se tornar uma diva. Não está nessa curta turnée ( depois de Fortaleza o show vai para São Paulo e Rio) fazendo favor a ninguém; certamente descobriu no brasileiro um filão, um velo de ouro. São poucos os compositores da sua envergadura, com vocação jazzista, em atividade hoje.

Créditos
O Teatro Via Sul, que fica no shopping de mesmo nome projetado por Afranio Pinto e Paulo Novais, tem a melhor acústica da cidade, mérito de André Grieser, e belíssimo projeto de ambientação de Marcus Novais.

Vídeo
Viola Enluarada com antológica participação de Milton Nascimento.