quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

CINEFILIA

Oscar 1
O Oscar é um prêmio da indústria estadunidense, diferentemente da Palma de Ouro de Cannes, do Leão de Ouro de Veneza e do Urso de Ouro de Berlim, dedicados à arte do cinema no mundo todo com espaço inclusive para a experimentação.

Oscar 2
O Oscar principal, com algumas exceções, passa ao largo da história do cinema e quando se aproxima dela é pra consolidar sua posição de fomento ao descartável. Isto ocorreu de forma emblemática em 1984, quando o desconhecido (até hoje) diretor James L. Brooks, com o fraquíssimo Laços de Ternura (alguém se lembra?)  tirou o prêmio de melhor diretor de Ingmar Bergman com o clássico Fanny e Alexander. No mesmo ano, Era Uma Vez na América, de Sergio Leone, ficou fora de todas as indicações.



Oscar 4
O prêmio para filme estrangeiro, que no passado contemplou maravilhas como Ladrões de Bicicleta, de De Sica,  Rashomon e Dersu Uzala, de Kurosawa, Meu Tio, de Tati, A Estrada da Vida, Noites de Cabíria, Oito e Meio e Amarcord, de Fellini,  O Discreto Charme da Burguesia, de Buñuel , Através do Espelho e, inclusive, Fanny e Alexander, de Bergman, há muito se empenha em contemplar os que seguem a cartilha de Hollywood no resto do mundo. Podemos exemplificar isso com Pedro Almodóvar, um realizador superlativo, inquieto e transgressor, que foi contemplado por Tudo Sobre Minha Mãe, a mais convencional de suas obras. Fale Com Ela, muito superior e que veio logo a seguir, nem chegou a ser proposto para indicação pelo seu próprio país, mesmo já sendo um sucesso internacional.

Oscar 5
Antonioni, Pasollini, Rossellini, Visconti, Ozu, Angelopoulos, Resnais, Manoel de Oliveira, Mizoguchi, Godard, Demy, Paradjanov, Bresson, Wajda, Tarkovski, Kieslovsky, Kieslovski, Kiarostami, Makhmalbaf, Max Ophuls, Hitchcock, Jean Renoir, Dreyer, Rohmer, Fernando Solanas, Emir Kusturica, Glauber Rocha ficaram fora desse universo, assim como os estadunidenses Chaplin, Welles, Cassavettes, Losey, Kubrick e Altman.


Oscar 5
Obviamente a fábrica Hollywood possui tentáculos que tocam "críticos" no mundo todo. No Brasil, então, poucos escapam. Um fato esclarecedor disso: Quando Avatar, o produto mais rendoso do cinema em todos os tempos  perdeu o prêmio para o fracassado nas bilheterias Guerra ao Terror (o título nacional é banal, mas o filme não), o popular Rubens Ewald Filho, um bravo guerreiro na luta pelo achatamento cultural dos brasileiros, falou no calor da emoção/frustração que aquilo era um tiro no pé academia.

Oscar 6
Não deixa de ser surpreendente a quase unânime aclamação da crítica nacional ao longa iraniano A Separação, de Asghar Farhadi, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Ele é realmente muito bom.

A Separação
O cinema Iraniano que dominou o cenário "cult" dos anos 90, volta  a brilhar com a simplicidade e o vigor criativo de sempre. Aqui, tendo como partida uma intenção de divórcio numa sociedade machista e teocrática, somos levados  a vivenciar  uma sequência de fatos e reviravoltas, que  nos deixam com o coração na mão e a alma suspensa até o final dos letreiros finais (mais não se deve dizer pois, embora o suspense não seja o principal objetivo desta comovente e nada maniqueísta  radiografia da essência humana, contribui enormemente para sua força narrativa). O filme ganhou em Berlim o Urso de Ouro de melhor filme e também os prêmios de melhor ator e de melhor atriz, que foram merecidamente divididos entre os dois casais protagonistas. Poderia ter sido estendido à ótima Sarina Farhadi, que faz a filha adolescente do casal que se divorcia. Seu rosto nos acompanha por muito tempo depois da projeção. 

 


9 comentários:

  1. Sucesso Guedes! Boa iniciativa.. Você tem muito a nos dizer.. Vamos adorar...
    Vou ver a Separação. Os outros já vi todos. Nossos gostos estão batendo...
    bjs

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  2. Parabéns pelo blog. Aqui tenho a certeza que vou encontrar o sumo de sua verve e de sua inteligência.
    E já que você falou em OSCAR, o filme A SEPARAÇÃO é mesmo muito bom. Tambem observei que, ao final, ninguém arredou o pé, esperando que algo acontecesse, embora eu soubesse que a surpresa e o suspense não eram a essência do filme.
    Sérgio Costa Sousa

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  3. Muito bom, e objetivo meu caro Guedes! Concordo plenamente!

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  4. "Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor”"
    ?????
    " (...) simplismo é resultante da evolução tecnológica que nos impõe um modo de vida simplificado onde o efêmero, o rápido, o descartável deve prevalecer à investigação mais profunda da realidade."...etc..etc...etc...
    Sem "aprofundar", acho uma bobagem qualquer tentativa de listar melhores e/ou piores...principalmente em se tratando de artes. O problema é a comercialização dessas "listas" que terminam impondo o que vamos ver nas minguadas salas dos poucos cinemas desse país tupiniquim!

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  5. " (...) simplismo é resultante da evolução tecnológica que nos impõe um modo de vida simplificado onde o efêmero, o rápido, o descartável deve prevalecer à investigação mais profunda da realidade."...etc..etc...etc...
    Sem "aprofundar", acho uma bobagem qualquer tentativa de listar melhores e/ou piores...principalmente em se tratando de artes. O problema é a comercialização dessas "listas" que terminam impondo o que vamos ver nas minguadas salas dos poucos cinemas desse país tupiniquim!

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  6. Muito bem Guedes. Acho que o post é pra quem pensa cinema apenas como entretenimento. É uma discussão interessante, assim como no futebol, arte x força. Tudo muito relativo, afinal a grande indústria, por tabela, também acaba beneficiando os alternativos. Isso tudo me fez lembrar de uma frase-trocadilho infame do meu amigo Robledo Duarte "Cinema europeu: só papo. Cinema americano: sopapos". :)

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  7. É sempre bom encontrar cabeças pensantes "sentadas à nossa frente" nas salas de cinema. Um prazer visitar este espaço, espero voltar sempre e encontrar mais dicas sobra a sétima arte.
    Aproveito para convidá-lo a visitar o Ouvidoria, um Blog sobre Arte, Decoração, Design e muito mais.
    Valeu, artista!

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  8. Parabéns, Guedes, pelo novo blog. Precisamos de mais pensadores críticos como você em todas as áreas...um grande abraço aqui do Rio para você e meu Ceará maravilhoso.

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  9. A família de Zenon parabeniza pela curadoria e agradece pela realização da exposição Construção/Figuração de Zenon Barreto. Quatro salas belíssimas, como se percebe já a partir das fotos publicadas no blog. Ainda bem que o Ceará tem gente pra pensar museu de artes plásticas assim como o José Guedes. Grande abraço.
    Nara e Frede Barreto

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